Prisão Preventiva
Aqui, no meu quarto tão meu,
Os meus gestos rotineiros são saúde,
Os meus ruídos, ontem inaudíveis, são valsas,
os meus livros são flores, são amigos, são diálogos.
Lá fora, o vazio abafa este meu viver!
No silêncio do meu quarto tão meu
As paredes encolhem-se de dor,
As paredes são solidárias no amor
Não me baleiam com notícias deprimentes
Contam-me histórias, fábulas de La Fontaine
Cantam-me hinos de alegria
E baladas de encantar.
Olho o teto branco,
Hoje é o meu céu,
No meio das nuvens brancas
Mora o sol
Em forma de bolinhas de cristal
A que eu chmava de candeeiro.
À minha volta, um jardim florido
Tão lindo como um quadro de Monet
Alguns rostos a quem vou acenando,
Outrora respondiam e aconselhavam,
Hoje escutam inertes no seu lugar
Demorei o meu olhar na porta que não posso abrir
Espreito pelo buraco que serve de chave
E descubro que a minha liberdade
Mora ali ao meu lado
No meu quarto, tão meu!
Naria Radatos
in Quarentena